A nova tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, imposta pelos Estados Unidos, marca um novo capítulo nas relações comerciais entre os dois países. Oficializada por decreto do presidente Donald Trump, a medida entra em vigor no dia 6 de agosto e afeta diretamente setores estratégicos da economia brasileira. Embora parte dos produtos tenha sido poupada, exportações relevantes como café, carne bovina e frutas tropicais sentirão os efeitos imediatos.
Para profissionais da contabilidade e analistas financeiros que atuam com empresas exportadoras, compreender as implicações dessa medida é fundamental para avaliar riscos, reestruturar projeções e orientar clientes diante de um cenário instável.
A ordem executiva estabelece uma sobretaxa de 50%, representando um acréscimo de 40 pontos percentuais em relação à alíquota anterior. Segundo a Casa Branca, a justificativa formal está ligada a questões de segurança nacional e supostas violações de direitos humanos no Brasil. A decisão, no entanto, tem impacto direto na competitividade dos produtos brasileiros no mercado norte-americano.
Mesmo com uma lista de 694 produtos isentos, o aumento tarifário abrange itens essenciais para a balança comercial brasileira. Como os EUA são o segundo principal destino das exportações do Brasil — atrás apenas da China —, a medida representa uma ameaça significativa à receita de setores que dependem do mercado americano.
A nova alíquota afeta uma série de produtos que não foram incluídos nas isenções e, portanto, sofrerão aumentos expressivos de custo para o consumidor final nos Estados Unidos. Confira os principais:
O Brasil é o maior exportador mundial de café, e os EUA são um destino tradicional do grão. Em 2024, foram quase US$ 2 bilhões em exportações. Com a nova tarifa, o produto tende a encarecer para os americanos, o que pode reduzir a competitividade do café brasileiro e afetar margens de lucro dos exportadores.
O setor de carne bovina terá impacto significativo. Os EUA responderam por 16,7% do volume exportado em 2024, somando 532 mil toneladas e US$ 1,6 bilhão em receita. Empresas como a Minerva projetam queda de até 5% na receita líquida. Mesmo grupos com operação nos EUA, como JBS e Marfrig, podem sentir reflexos no curto prazo.
O impacto sobre o setor frutícola também é expressivo. Entre os volumes exportados em risco estão 36,8 mil toneladas de manga, 13,8 mil toneladas de uva e 18,8 mil toneladas de frutas processadas, especialmente açaí. Com o aumento do custo de importação, a demanda pode cair drasticamente.
Calçados brasileiros não foram contemplados com exceções e sofrerão a nova alíquota integralmente. O mesmo vale para têxteis e alguns móveis, exceto os classificados como específicos para aeronaves civis. Esses setores enfrentam dificuldades adicionais por dependerem fortemente de volume e margens enxutas.
Apesar do aumento generalizado, o decreto americano também trouxe uma extensa lista de isenções — ao todo, 694 produtos foram excluídos da sobretaxa, o que representa 43,4% das exportações brasileiras aos EUA em 2024, segundo a Amcham Brasil.
Entre os produtos beneficiados, destacam-se:
Segundo o economista Otaviano Canuto, muitos desses itens são de difícil substituição para o mercado americano, o que justifica a exclusão.
Produtos que já estavam em trânsito até o dia 6 de agosto poderão chegar aos EUA até 5 de outubro sem serem afetados pela nova alíquota. Além disso, há sinalizações do Departamento de Comércio dos EUA sobre a possibilidade de eliminar tarifas para produtos agrícolas que os americanos não cultivam, como café, manga e cacau.
De acordo com estimativas da Fiemg, se não houvesse isenções, o impacto no PIB poderia alcançar queda de 1,49%, com potencial perda de até 1,3 milhão de postos de trabalho. Com as isenções, o cenário é menos crítico, mas ainda preocupante.
A Amcham destaca que setores não contemplados com exceções enfrentarão maior perda de competitividade e possível exclusão de cadeias globais de valor.
Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior, alerta que mesmo setores menores — como o de porcelanato, mel e algumas frutas — podem ser fortemente afetados, já que dependem fortemente do mercado norte-americano.
Para contadores que atuam com empresas exportadoras, o momento exige atenção redobrada:
Embora a lista de isenções tenha evitado um cenário mais dramático, os impactos da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros serão sentidos de forma concreta por muitos setores. Contadores e analistas financeiros devem atuar como agentes estratégicos neste momento, ajudando seus clientes a reestruturar custos, analisar riscos e encontrar alternativas de mercado.
A situação exige vigilância constante e capacidade de adaptação. Afinal, em tempos de instabilidade internacional, a contabilidade estratégica se torna uma aliada fundamental para a sobrevivência e a competitividade das empresas brasileiras no comércio global.