Com a entrada em vigor de uma nova tarifa de 50% anunciada pelos Estados Unidos para produtos brasileiros a partir de 1º de agosto de 2025, profissionais da contabilidade que atuam com exportação e comércio exterior precisam redobrar a atenção. Essas medidas têm impacto direto na formação de preços, no planejamento tributário e na estrutura contábil de empresas exportadoras — especialmente dos setores mais expostos ao mercado norte-americano.
Para além das manchetes, compreender como funcionam as tarifas internacionais e como elas alteram a dinâmica do trabalho contábil é essencial para garantir conformidade, competitividade e segurança nas decisões empresariais.
As tarifas de importação são instrumentos utilizados por países para regular o fluxo de mercadorias internacionais, com objetivos que vão desde a proteção da indústria local até estratégias diplomáticas e econômicas.
Tarifas de importação são tributos aplicados por um país sobre produtos estrangeiros que entram em seu território. Elas incidem sobre o valor aduaneiro da mercadoria, sendo classificadas em diferentes categorias:
Essas tarifas podem ser ajustadas de acordo com políticas comerciais bilaterais, barreiras econômicas ou estratégias fiscais, afetando diretamente o custo final de exportação para o país de destino.
Nos Estados Unidos, as tarifas de importação são gerenciadas por órgãos como o U.S. Trade Representative (USTR) e a U.S. International Trade Commission (USITC). Atualmente, produtos brasileiros entram nos EUA com uma média tarifária inferior a 10%, variando conforme o tipo de mercadoria e os acordos vigentes.
Setores como o de siderurgia, agroindústria e bens de capital estão entre os que tradicionalmente enfrentam tarifas específicas, mesmo antes das medidas adicionais anunciadas.
Com a nova alíquota anunciada, produtos brasileiros estarão sujeitos a um adicional de 50% sobre o valor de importação, o que representa um aumento expressivo nas barreiras comerciais entre os dois países.
A tarifa entra em vigor em 1º de agosto de 2025 - se até lá for concretizada - e incide de forma ampla sobre diversos produtos brasileiros, independentemente do setor. Na prática, trata-se de um acréscimo tarifário sobre as taxas já existentes, o que pode resultar em aumento considerável no custo total do produto exportado.
Contadores que assessoram empresas exportadoras precisarão revisar não apenas os preços praticados, mas também a margem de lucro esperada nas transações internacionais.
A adoção dessa tarifa modifica a dinâmica da contabilidade aplicada à exportação. A começar pela reavaliação dos preços de transferência, passando pela atualização dos registros de receita em moeda estrangeira até chegar à adaptação dos lançamentos em sistemas contábeis e fiscais.
Além disso, contratos internacionais poderão demandar revisão de cláusulas, especialmente em relação a responsabilidades tributárias, prazos de entrega e valores de compensação.
Embora a medida afete toda a cadeia de exportação, há setores mais sensíveis à mudança e que tradicionalmente concentram boa parte da atuação dos contadores especializados em comércio exterior.
Entre os segmentos mais impactados estão:
Esses setores são altamente dependentes do mercado norte-americano e podem sofrer retração nas vendas em decorrência da elevação dos custos.
Para o contador, isso significa necessidade de revisar provisões, reestruturar projeções de faturamento externo e recalcular margens líquidas exportáveis. Além disso, haverá maior exigência no uso de ferramentas de simulação fiscal e no controle de variações cambiais que impactam diretamente os registros contábeis.
Com mudanças desse porte, o papel do contador se expande para além da conformidade fiscal. Ele passa a atuar como um agente estratégico na reestruturação das operações internacionais das empresas.
É fundamental revisar os contratos firmados com compradores estrangeiros. Cláusulas relacionadas a tributação, frete, prazo de pagamento e reajuste de valores precisam ser reavaliadas sob a nova realidade tarifária.
Essa análise evita surpresas operacionais e permite antecipar impactos no caixa e no planejamento tributário da empresa.
A nova tarifa pode exigir revisão da classificação fiscal (NCM e HS Code) dos produtos, especialmente quando há dúvidas sobre a correta interpretação de alíquotas. Também é importante verificar se os produtos se enquadram em regimes especiais como drawback, Recof e RE, cujas vantagens podem ser afetadas.
Manter a empresa em conformidade com as regras aduaneiras e tributárias internacionais é essencial para evitar penalidades e garantir agilidade nos processos de exportação.
Diante desse cenário, o uso de relatórios gerenciais de exportação, dashboards de custos logísticos, controles de variação cambial e módulos contábeis com foco em comércio exterior se torna indispensável. Quanto maior a visibilidade sobre os impactos financeiros da tarifa, mais precisa será a tomada de decisão.
A nova tarifa de 50% anunciada pelos Estados Unidos impõe desafios técnicos e estratégicos para empresas brasileiras e seus contadores. Cabe ao profissional da contabilidade antecipar cenários, reavaliar práticas internas, adaptar os registros fiscais e orientar seus clientes com segurança diante das mudanças tarifárias.
Mais do que interpretar dados, o contador será responsável por traduzir impactos econômicos em ações práticas, garantindo que as empresas mantenham competitividade, compliance e solidez financeira em tempos de transformações no comércio internacional.