Saber lidar com a carreira de maneira saudável nos dias de hoje, não tem sido uma tarefa fácil. E cada vez mais tem exigido dos profissionais uma capacidade de administrar bem o tempo, as relações, a pressão por resultados e o estresse que é ocasionado pelo dia a dia da rotina. Diante desse cenário, surgem algumas doenças que podem desencadear a depressão nos colaboradores, e por isso, separei alguns pontos que devem ser observados e algumas ações de como a empresa pode atuar para ajudar nessa situação.
A OMS (Organização Mundial de Saúde) aponta que até 2020, a depressão será o 2º maior motivo de afastamento com a possibilidade de aumentar daqui a uma década. Por isso a importância de identificar e criar ações para evitar e ajudar os que sofrem desse mal.
O que é a depressão?
Antes de começarmos a falar sobre a definição do que é a depressão, eu gostaria de pontuar o que não é depressão. Ao contrário do que algumas pessoas pensam, não se trata de frescura ou falta do que fazer, nem falta de Deus ou um momento de angústia. Trata-se de uma das doenças mais perigosas e silenciosas que o nosso século já viu.
Segundo o CID 10-F33, a depressão é uma doença psiquiátrica crônica e recorrente que produz uma alteração psiquiátrica crônica e recorrente que produz alteração do humor caracterizada por uma tristeza profunda, sem fim, associada a sentimentos de dor, amargura, desencanto, desesperança, baixa autoestima e culpa, assim como a distúrbios do sono e do apetite.
Acredito que a principal campanha ou conscientização que precisaríamos realizar com as pessoas é o entendimento de como, fisiologicamente, essa doença altera a vontade de viver das pessoas.
Nem toda tristeza é depressão
Já começo esclarecendo que é de suma importância distinguirmos a tristeza patológica, daquela transitória provocada por algum acontecimento difícil e que fazem parte da vida de nós seres humanos, tais como: a morte de uma pessoa que amamos; perda de um emprego; traição de um namorado(a); morte de um bichinho de estimação; traição de um amigo e etc.
Tristeza momentânea
Todos esses eventos podem provocar tristezas que são naturalmente “absolvidas” com o tempo e fazem com que as pessoas sigam em frente mesmo que o peito ainda esteja sentindo.
A diferença é que, quando não há depressão, o cérebro consegue modular essa emoção negativa. Você pode estar triste, mas sabe que tem de ir trabalhar, toma um café, procura pensar coisas boas e segue adiante.
Se fizermos uma autoanálise ou analisarmos pessoas próximas a nós que já passaram por alguma situação citada acima, vamos perceber que sem a depressão, a tristeza vem seguida de uma superação.
Tristeza associada a depressão
Na depressão, a tristeza não cede e não importa o motivo, ela não dá trégua mesmo que não haja uma causa aparente. O primeiro a ser atingido é o humor que permanece deprimido praticamente o tempo todo, por dias, as vezes por meses ou anos.
O interesse pelas atividades que antes davam prazer já não significam mais, o indivíduo perde todas as perspectivas e a única coisa que ele quer é ficar quieto, no “escuro”, sozinho. Obviamente, esses sintomas vai depender bastante do grau de depressão em que ele enfrenta.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já alertou para o fato de que, até 2030, o distúrbio pode se tornar o mais comum do mundo inteiro, a depressão tem sido uma doença incapacitante que atinge por volta de 350 milhões de pessoas no mundo.
Os quadros variam de intensidade e duração e podem ser classificados em três diferentes graus: leves, moderados e graves.
Fisiopatologia da Depressão
Fiz questão de tentar explicar de uma forma mais simples, como a depressão atua no cérebro. O objetivo foi fazer você entender que não adianta muito pedir para alguém se animar ou sair de casa, pois ela não vai conseguir. E não é por má vontade, ela apenas não consegue!
Vou tentar simplificar para que você entenda o que acontece, temos me nosso cérebro regiões que são responsáveis por emoções negativas.
Você já deve ter assistido o filme divertidamente, onde temos a representação dos sentimentos básicos (tristeza, alegria, raiva, nojo, medo). Pois bem, agora imagine o seu cérebro como uma cabine de comando sendo conduzida somente pela tristeza, a alegria já não consegue mais tomar a frente da situação.
Pronto, poderia parar por aqui que já daria para você entender, mas vamos ver a fisiopatologia real para que você saiba como acontece
O nosso cérebro utiliza muitos neurotransmissores, que são substâncias produzidas pelos neurônios para enviar informações para outras células. Os principais neurotransmissores envolvidos na depressão, são a serotonina e a noradrenalina. Quando há um desequilíbrio na produção delas, a doença se instala.
Entendendo que os neurônios precisam de neurotransmissores para se comunicar, o tratamento para depressão consiste em aumentar os neurotransmissores certos para que seja possível ajustar novamente a função desses neurônios.
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Existem causas genéticas para a doença?
Alguns estudos apontam que uma das causas para a doença, pode estar relacionada a genética. Estudos apontam que os genes que a pessoa carrega são responsáveis por 40% das chances de desenvolver a doença. O restante deste percentual é influenciado pelo ambiente e outros fatores externos.
Os fatores genéticos associados a causas externas, tais como, o estresse forte ou a perda de um ente querido podem desencadear sim a depressão. Um evento dessa magnitude pode desencadear o desequilíbrio dos neurotransmissores no cérebro.
Ao saber que depressão pode ter uma origem biológica, o doente não se culpa tanto, pois os amigos e familiares podem encarar a doença numa perspectiva mais solidária.
Entender e buscar ajuda são as principais ações que precisam ser tomadas. Procurar um psiquiatra, fazer terapia, dormir bem e praticar atividade física, fazem parte do tratamento para mitigar ou quem sabe eliminar o problema.
Como o ambiente de trabalho pode colaborar para a depressão?
O ambiente corporativo costuma exigir bastante da maioria dos profissionais, e as diversas demandas, projetos, prazos e decisões, podem fazer com que o indivíduo se sinta exausto e até mesmo ansioso mais do que deveria.
Vimos mais acima, que algumas pessoas podem trazer consigo causas genéticas, o que pode predispor esse individuo a estar mais suscetível a depressão, em um ambiente corporativo mais agressivo e que trabalha sob forte pressão.
Não que a empresa seja o único motivo para desenvolver esse tipo de doença em colaboradores, mas ela pode sim propiciar para que esse gatilho seja acionado.
Qual a participação do RH nesse processo?
O setor de RH, bem como todos os colaboradores e líderes, podem ter uma participação determinante na identificação e no auxílio ao tratamento contra a depressão no trabalho.
A valorização dos colaboradores e ações que promovam a desaceleração, podem ajudar bastante a lidar com o dia a dia exaustivo. Realizar programas de conscientização da doença e formas de como evitá-la, pode ser o início desse longo caminho.
Portanto, a saúde mental deve ser uma peça cada vez mais importante no quebra-cabeça de benefícios que uma organização tem a oferecer aos seus colaboradores.
E não pode ser só pelo motivo de que a humanização nas relações e a preocupação com a saúde emocional e física das pessoas podem ajudar nos índices de absenteísmo, engajamento e produtividade, mas porque mostra a preocupação genuína com a pessoa por trás do crachá.
Sintomas da depressão: como identificar
Entre as principais situações, estão as mudanças comportamentais dos seus colaboradores. Um dos fortes indícios é o desempenho, a presença e a forma como ele lida com os demais.
Como o RH não é Deus para ser “onipresente e estar em vários lugares ao mesmo tempo”, o setor deve criar mecanismos que afiram o desempenho e o acompanhamento. Com certeza se mensurado, será percebido pelos líderes um queda contínua ou brusca na performance de um colaborador.
Outra ação tão importante quanto uma avaliação de desempenho, é orientar a todos sobre a doença, para que todos possam ajudar a evitar e identificar características que possam levar a um agravamento.
Separei alguns dos sintomas mais comuns no ambiente de trabalho que podem ser percebidos nos colaboradores que podem estar desenvolvendo quadros depressivos:
- cansaço excessivo;
- insatisfação crônica, ou seja, nada está bom ou tem graça;
- picos de alegria;
- indecisão;
- reclusão e introspecção;
- irritabilidade;
- agressividade;
- dificuldade de concentração;
- falta de motivação;
- queda drástica na produtividade;
- dificuldade nas relações com os colegas;
- tristeza constante e profunda.
Vale ressaltar que é necessário a avaliação de um profissional, que ainda existe um tabu sobre a doença e que nem todos querem se abrir sobre seus problemas pessoais. Portanto, crie canais para que isso possa chegar à tona.
Capacite os gestores da empresa
Os gestores têm um papel fundamental em identificar e prevenir a depressão no trabalho.
Primeiramente, porque podem existir líderes tóxicos que ativam o gatilho ou porque são o contato mais próximo do profissional abalado psicologicamente. Além do fato de que, os líderes estão por dentro das mudanças abruptas de comportamento ou performance dos colaboradores.
Algumas pessoas me perguntam o que fazer para conscientizar as lideranças, e sempre respondo que o RH pode fazer um trabalho contínuo de esclarecimento e capacitação, como:
- treinamentos sobre perfis comportamentais;
- realizar feedback;
- criar grupos que compartilham experiências;
- estimular o diálogo aberto com todos sobre a importância e os cuidados com a saúde mental.
Com a educação a respeito das realidades sobre a depressão no trabalho, todos podem atuar na prevenção e ajudar quem sofre com essa doença.
Dicas para prevenir a depressão no trabalho
Prevenir a depressão no trabalho, depende de algumas ações que devem ser levadas a sério. Veja abaixo 3 dicas importantes e comece já a trabalhar na sua empresa.
1. Torne agradável o local de trabalho
Que tal transformar o ambiente em um local que estimule as vibrações positivas e as sensações relaxantes? Isso, pode ajudar na manutenção e bem-estar das pessoas.
Além disso, certifique-se de que não exista toxicidade no local de trabalho, como, assédios, bullyings e toda forma de intolerância que pode desencadear casos de depressão no trabalho.
Isso inclui a atenção à gestão e a maneira com a qual os líderes se relacionam com os profissionais. Afinal, o assédio pode vir também de quem cobra e demanda por resultados, e isso tende a evoluir para casos de distúrbios psicológicos, como o estresse, a ansiedade e a depressão.
2. Flexibilize a rotina
Uma boa maneira de combater a depressão no trabalho é a partir da criação de uma rotina mais flexível. Isso significa, por exemplo:
- estabelecer um dia de home office por semana;
- trabalhar com banco de horas, caso sua convenção coletiva permita;
- desenvolver programas de bem-estar como momentos para mindfulness;
- dias de convívio com a família;
- prática de esportes.
Essas ações, embora pareçam meros detalhes na luta contra a depressão no trabalho, permitem o estabelecimento de uma cultura de valor ao profissional, principalmente, a intenção em buscar auxílio.
3. Ofereça ajuda especializada
Por fim, vale destacar que o RH tem sim, um papel elementar nessa identificação e auxílio contra a depressão no trabalho, mas o tratamento não é responsabilidade dos profissionais do setor.
Evite, portanto, transformar as conversas em sessões terapêuticas. O funcionário se abrir é um primeiro passo importante, mas o tratamento com profissionais qualificados, tende a ser a alternativa mais eficiente para que esse colaborador volte a ter uma vida mais saudável.
Espero que essas dicas tenha te ajudado, e se não existe em sua empresa momentos para trabalhar esse tema, os crie. As tendências para a realidade que nos aguarda no futuro, podem ser mudadas a partir das nossas ações e do olhar ao outro que oferecemos.