A relação comercial entre Brasil e Estados Unidos é estratégica. Os EUA são, historicamente, o segundo principal destino das exportações brasileiras, atrás apenas da China. Em 2024, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), as vendas para o mercado americano somaram cerca de US$ 36 bilhões, com destaque para setores como petróleo, produtos agroindustriais, aeronaves e bens industrializados.
Com base nesse desempenho, o Brasil se consolida como fornecedor relevante de matérias-primas e bens de consumo para o mercado norte-americano. Essa posição, no entanto, foi recentemente impactada por uma nova política tarifária anunciada pelo governo dos EUA, com aumento de 50% nas tarifas sobre diversos produtos brasileiros a partir de 1º de agosto de 2025.
Neste cenário, é fundamental que contadores e profissionais de contabilidade estejam atentos aos desdobramentos fiscais, operacionais e estratégicos das novas regras. A seguir, você confere os principais produtos exportados para os EUA, as novas tarifas e o que muda na prática.
A pauta de exportações brasileiras aos EUA envolve uma variedade de produtos, com destaque para setores essenciais da economia nacional. Abaixo estão os principais produtos exportados e sua representatividade no cenário atual:
Esses segmentos formam a espinha dorsal das exportações brasileiras aos EUA, e por isso, o anúncio da nova tarifa impacta diretamente a economia, a cadeia produtiva e a contabilidade das empresas exportadoras.
A medida anunciada pelo governo dos EUA impõe um aumento tarifário de 50% sobre uma série de produtos brasileiros, com início em 1º de agosto de 2025. O objetivo declarado vai desde motivações políticas até proteger a indústria norte-americana - mesmo os EUA tendo superavit comercial com o Brasil.
Essas tarifas serão acumuladas às tarifas já existentes, o que representa uma elevação significativa no custo de entrada dos produtos brasileiros. Veja na tabela abaixo um resumo dos principais produtos afetados:
PRODUTO | TARIFA TUAL EUA (MFN) | NOVA TARIFA ADICIONAL | TOTAL FINAL ESTIMADO |
---|---|---|---|
☕ Café | 10% | +50% | 60% |
🥩 Carne bovina | 26,4% (cotas) ou 10% |
+50% | 76,4% ou 60% |
🍊 Suco de laranja | 10% | +50% | 60% |
🛢️ Petróleo | 0% | +50% | 50% |
✈️ Aeronaves | 0% | +50% | 50% |
⚙️ Semimanu- faturados de aço |
25% (até maio/25) → 50% |
+50% | 100% |
🧱 Materiais de construção | ~2–5% | +50% | 52–55% |
🪵 Madeira | 25% | +50% | 75% |
🛠️ Máquinas e motores | ~2% | +50% | 52% |
📱 Eletrônicos | 0% a 2% | +50% | 50–52% |
Qualquer alteração de tarifas afeta diretamente o trabalho dos profissionais de contabilidade. Portanto, veja alguns impactos que os contadores sentirão a partir de agosto, caso a nova tarifa de 50% seja confirmada.
O impacto mais imediato será sobre a formação de preços. Empresas exportadoras precisarão recalcular suas margens de lucro, considerando o custo adicional de 50% ao produto ao chegar ao mercado americano. Isso pode inviabilizar contratos existentes e comprometer a rentabilidade. Para contadores, será essencial revisar as tabelas de preços, simular cenários e auxiliar os gestores nas decisões de precificação.
Com a mudança, contratos de fornecimento podem precisar de revisão jurídica e contábil, principalmente em cláusulas de variação cambial, frete internacional e tarifas. O Demonstrativo de Resultado do Exercício (DRE) deverá refletir provisões de perdas e eventuais cancelamentos de pedidos.
Além disso, a nova tarifa impactará diretamente o fluxo de caixa das exportadoras, exigindo reavaliações periódicas das entradas esperadas e da alocação de recursos.
É recomendável que contadores avaliem regimes especiais de exportação, como:
Essas estratégias podem minimizar o impacto tributário e manter a competitividade no mercado americano.
A mudança de tarifa pode gerar um redirecionamento estratégico das exportações brasileiras. Países como Alemanha, China, Emirados Árabes e Índia podem se tornar alternativas viáveis. Contadores terão papel fundamental ao elaborar estudos comparativos de mercado, simulações de custo de exportação e apoio à tomada de decisão.
O contador, mais do que nunca, será uma peça-chave para que empresas se adaptem ao novo cenário. Veja ações práticas que esses profissionais podem adotar:
A aplicação de tarifas adicionais de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos EUA impõe uma mudança de rota no comércio exterior e desafia diretamente a atuação contábil nas empresas afetadas. Contadores precisam assumir uma postura analítica e estratégica, apoiando decisões de precificação, ajustes contratuais, alternativas de mercado e revisão tributária.
Neste contexto, mais do que registrar números, o papel do contador será interpretar cenários e antecipar impactos, garantindo que as exportadoras brasileiras mantenham a competitividade mesmo diante de adversidades comerciais globais.