A indústria farmacêutica brasileira segue em ritmo de crescimento acelerado, impulsionada tanto pela inovação científica quanto pelo aumento da demanda por medicamentos, suplementos e produtos de bem-estar. Em meio à forte concorrência e à constante pressão por resultados, destacam-se empresas que não apenas dominam o mercado em vendas, mas que também constroem culturas organizacionais sólidas, voltadas ao desenvolvimento humano e à formação de lideranças estratégicas.
Segundo levantamento da Associação Brasileira de Distribuição e Logística de Produtos Farmacêuticos (Abradilan), em parceria com a consultoria IQVIA, as maiores farmacêuticas do país em 2024 foram ranqueadas com base no volume de vendas para farmácias. Os números revelam não apenas o desempenho econômico das gigantes do setor, mas também abrem espaço para refletir sobre os bastidores desse sucesso — em especial, as práticas de gestão de pessoas que sustentam o crescimento a longo prazo.
Neste artigo, você confere o ranking das maiores empresas do setor e, mais do que isso, descobre como essas organizações estruturam suas estratégias de liderança, cultura e desenvolvimento de talentos. Para profissionais de RH, lideranças empresariais e gestores, as lições extraídas desse levantamento podem servir de referência para transformar ambientes corporativos e impulsionar resultados com base no capital humano.
Posição | Empresa | Vendas para farmácias (R$ bi) |
---|---|---|
1 | Grupo NC (EMS) | 26,43 |
2 | Eurofarma | 18,73 |
3 | Hypera Pharma | 17,08 |
4 | Sanofi | 9,65 |
5 | Cimed | 9,25 |
6 | Aché | 8,25 |
7 | Novo Nordisk | 6,66 |
8 | Teuto | 5,45 |
9 | Biolab | 4,98 |
10 | União Química | 4,86 |
11 | P&G | 4,19 |
12 | Sandoz | 4,15 |
13 | Geolab | 3,34 |
14 | Nestlé | 3,30 |
15 | AstraZeneca | 3,29 |
16 | L'Oréal | 3,24 |
17 | Libbs | 3,20 |
18 | FQM | 3,03 |
19 | Johnson | 2,97 |
21 | Unilever | 2,79 |
Este ranking revela a força de grupos nacionais e internacionais, com modelos de negócios distintos, mas que compartilham um ponto em comum: a capacidade de liderar pessoas em direção a metas ambiciosas, mantendo a competitividade e a sustentabilidade de suas operações.
Com um faturamento superior a R$ 26 bilhões em 2024, o Grupo NC, por meio de sua principal marca EMS, ocupa a liderança do mercado farmacêutico brasileiro. Fundada em 1964, a empresa nacional se consolidou como a maior do setor por meio de um portfólio diversificado, forte atuação no segmento de genéricos e parcerias estratégicas com multinacionais.
Por trás desse sucesso comercial, o Grupo NC desenvolve uma estratégia robusta de gestão de pessoas, com destaque para o investimento em educação corporativa, formação de líderes internos e programas de desenvolvimento contínuo. Um dos pilares dessa política é a Universidade EMS, plataforma de capacitação criada para atender a todos os níveis da organização, com foco em inovação, alta performance e liderança.
Além disso, a empresa adota um modelo de liderança descentralizada, que estimula a autonomia dos gestores e valoriza o papel das equipes na construção de soluções. Essa abordagem, associada a práticas de reconhecimento e clima organizacional positivo, contribui para atrair e reter talentos, mesmo em um setor altamente competitivo.
Outro diferencial relevante é o incentivo à inovação colaborativa, presente tanto na área de P&D quanto na gestão interna. Profissionais são estimulados a propor melhorias, participar de hackathons internos e desenvolver projetos com impacto direto nos resultados. Isso cria uma cultura de pertencimento e engajamento, essencial para sustentar o crescimento da companhia em longo prazo.
Para profissionais de RH, a trajetória da EMS é um exemplo claro de como a integração entre estratégia de negócios e gestão de pessoas pode gerar vantagens competitivas reais. Em um setor que exige agilidade e excelência, o capital humano segue sendo o maior ativo da empresa.
A Eurofarma ocupa a segunda colocação entre as maiores farmacêuticas do Brasil em 2024, com R$ 18,73 bilhões em vendas para farmácias, segundo dados da Abradilan/IQVIA. A multinacional se destaca não apenas pela presença forte no mercado e por operações em 22 países, mas também por uma cultura de gestão de pessoas estruturada e frequentemente premiada — com 92 % de orgulho da equipe e turnover voluntário inferior a 2 %.
A Eurofarma é reconhecida pelo ambiente:
O relatório de sustentabilidade revela investimentos expressivos em ESG, capacitação e inovação — demonstrando que a empresa cuida tanto das pessoas quanto dos resultados.
A Eurofarma destaca-se por:
Com R$ 17,08 bilhões em vendas para farmácias em 2024, a Hypera Pharma ocupa a terceira posição entre as maiores farmacêuticas do Brasil. Detentora de marcas populares como Advil, Benegrip, Engov, Neosaldina e Tamarine, a empresa lidera o mercado de medicamentos isentos de prescrição (MIPs) e se destaca por um modelo de negócios centrado em marketing de marca, inovação e expansão de portfólio.
No campo da gestão de pessoas, a Hypera vem consolidando práticas modernas, reconhecidas por importantes selos de excelência organizacional. Em 2024, recebeu pelo segundo ano consecutivo a certificação Top Employers Brasil, conferida às empresas com os melhores ambientes de trabalho e políticas de RH no país.
A cultura organizacional da Hypera é estruturada sobre três pilares complementares:
Segundo o CEO Breno Oliveira, em entrevista institucional:
“O sucesso da Hypera depende de uma equipe engajada, alinhada ao nosso propósito e capaz de inovar todos os dias. Somos uma empresa que cresce rápido porque investe nas pessoas certas.”
Com base nos critérios avaliados pelo Top Employers Institute e no conteúdo institucional da empresa, a Hypera adota uma abordagem estratégica nas seguintes frentes:
Essas iniciativas contribuíram para a empresa figurar também em rankings como Great Place to Work, além de conquistar baixas taxas de rotatividade voluntária, um indicador-chave de engajamento em ambientes de alta exigência.
A Sanofi, multinacional francesa presente no Brasil há décadas, ocupa a 4ª posição no ranking das maiores farmacêuticas do país, com cerca de R$ 9,65 bilhões em vendas para farmácias em 2024. Mais do que desempenho financeiro, a companhia destaca-se por programas robustos de gestão de pessoas, com foco em diversidade, formação de líderes e desenvolvimento contínuo, baseados em processos reconhecidos globalmente.
A estratégia de DE&I da Sanofi no Brasil foi reforçada em 2021, com a constituição de um Comitê de Diversidade, Equidade & Inclusão (DE&I) voltado a garantir práticas representativas e equitativas em cinco pilares: gênero, gerações, pessoas com deficiência, LGBTQIA+ e raça/etnia.
“A estratégia de DE&I da Sanofi foi renovada em junho de 2021 com objetivos definidos para 2025… construídas em torno de três pilares: construir uma liderança representativa; criar um ambiente de trabalho para todos; e engajar as comunidades onde atuamos”.
A empresa foi pioneira no Brasil ao receber a certificação Age‑Friendly Employer, por suas políticas voltadas à inclusão de profissionais 50+. Hoje, cerca de 16% da equipe possui mais de 50 anos, com meta de atingir 20% até 2025.
A Sanofi investe em uma rede de aprendizagem colaborativa, chamada “Arena do Saber”, que envolve:
Além disso, a empresa oferece programas de estágio afirmativo voltados a determinados perfis (negros, pessoas trans, 50+, mães), com inclusão deliberada e apoio à diversidade desde o início da carreira.
A excelência em RH da Sanofi é reconhecida por:
O RH da Sanofi é conduzido por profissionais experientes — como a Head de DE&I, Neila Lopes — e pelo time, que atua na construção de metas concretas (ex: licença parental neutra, retorno de mães).
A trajetória da Sanofi no Brasil destaca que a seleção estratégica de pessoas e o investimento em cultura inclusiva são diferenciais sustentáveis, alinhados a resultados de mercado — além de tornarem a empresa um ambiente de desenvolvimento constante e representatividade.
O Grupo Cimed, atualmente a terceira maior farmacêutica do Brasil, com presença em cerca de 98 % das farmácias e mais de 5 000 colaboradores, é um exemplo notável de crescimento acelerado baseado em gestão estratégica de pessoas, liderança participativa e cultura organizacional forte.
A Cimed estruturou políticas com foco real no bem-estar integral, conforme lista a seguir:
Essas iniciativas têm impacto direto na retenção e no engajamento, com equipes mais motivadas e fidelizadas.
A diretora executiva de RH, Verônica Coelho, lidera uma abordagem focada em:
Essa cultura empreendedora fortalece o sentimento de pertencimento e de protagonismo.
A Cimed se destaca por ser uma empresa familiar que se renovou com modernidade, sem perder valores fundacionais:
Esse cuidado cultural e estratégico garante a perenidade organizacional.
O Aché, fundado em 1966 e presente no ranking das maiores farmacêuticas do Brasil, atua nas áreas de prescrição, genéricos e medicamentos MIPs, com 363 marcas em 978 apresentações, atendendo a 19 especialidades terapêuticas — segundo dados da Wikipédia.
O Aché enfatiza um ambiente de trabalho diverso, inclusivo e propício ao desenvolvimento pleno. Em sua plataforma de carreiras, a empresa destaca valores como “apaixonados pela vida”, “inovação”, “diversidade e talento”, com o compromisso de transformar vidas internamente e externamente.
Recentemente, o Aché lançou um programa digital chamado “Estar Bem Aché”, que oferece aos colaboradores (e seus dependentes) ferramentas como:
… tudo por meio de um único app. Essa abordagem demonstra um forte investimento no bem-estar físico e mental.
A companhia destaca programas específicos:
Essas iniciativas reforçam o foco em nova geração de líderes e no desenvolvimento interno de profissionais.
O Aché também atua fora do ambiente corporativo, com iniciativas como o “Aché Mais Vida Para Você”, que financia projetos voltados à infância, terceira idade, cultura e esporte, tendo investido cerca de R$ 10 milhões.
O Aché mostra que um propósito bem definido, combinado com ações práticas de cuidado e desenvolvimento, gera uma cultura alinhada, engajada e capaz de sustentar crescimento. Para profissionais de RH e líderes, suas iniciativas servem como referência para programas que impactam positivamente pessoas e comunidade.
A Novo Nordisk, especializada no tratamento de doenças crônicas como diabetes e obesidade, ocupa a 7ª posição no ranking das maiores farmacêuticas do Brasil, com R$ 6,66 bilhões em vendas para farmácias em 2024. Sua estratégia de gestão de pessoas é reconhecida internacionalmente por sua abordagem inclusiva, orientada por dados e focada no desenvolvimento a longo prazo de lideranças.
A empresa tem como meta alcançar 45% de mulheres e 45% de homens nos cargos de liderança até o final de 2025, meta essa global e refletida também no Brasil. Esse compromisso se manifesta em iniciativas estruturadas:
A transformação cultural está acompanhada por medidas concretas:
A Novo Nordisk posiciona os HR Business Partners (HRBPs) como consultores estratégicos de DE&I, integrando a diversidade diretamente às decisões de negócio. Em Montes Claros, o formato scrum é usado para operacionalizar diversidade com apoio de dados (people analytics), grupos de afinidade, e governança ativa.
A trajetória da Novo Nordisk no Brasil demonstra que iniciativas profundamente integradas — de recrutamento a bem-estar — criam uma cultura forte e sustentável. Para profissionais de RH e lideranças, trata-se de um case exemplar de como alinhar excelência de negócios com inclusão real e duradoura.
Apesar de suas histórias distintas, portes variados e modelos de negócios diferentes, as maiores farmacêuticas em atuação no Brasil compartilham uma base estratégica sólida em um ponto decisivo: as pessoas estão no centro da estratégia corporativa. Ao observar suas práticas de liderança, programas de RH e cultura organizacional, é possível identificar padrões consistentes que ajudam a explicar o sucesso e a longevidade dessas organizações.
A seguir, destacamos os elementos comuns que mais se repetem — e que podem servir de referência valiosa para líderes e profissionais de Recursos Humanos de qualquer setor:
Todas as empresas analisadas investem em formação contínua de líderes, com programas próprios, trilhas de capacitação ou iniciativas voltadas à formação de gestores preparados para ambientes complexos e em transformação. Esse movimento não apenas garante uma sucessão mais qualificada, como também sustenta a cultura da empresa a longo prazo.
Seja com programas internos como os da EMS e da Eurofarma, ou com as práticas baseadas em princípios inclusivos da Novo Nordisk e Sanofi, o fato é que a liderança é tratada como competência estratégica, e não apenas como uma posição.
Outro ponto em comum é o cuidado com a cultura organizacional como elemento vivo e atuante, refletida em comportamentos, decisões, clima interno e formas de gestão. Empresas como a Hypera e a Cimed demonstram isso de forma explícita: têm culturas orientadas à performance, mas que equilibram resultados com bem-estar e pertencimento.
Além disso, há forte atenção à comunicação interna, valores compartilhados e senso de propósito, o que aumenta a retenção, engajamento e fidelidade dos colaboradores.
Sanofi e Novo Nordisk são referências globais nesse aspecto, mas o tema também aparece em outras empresas, ainda que com diferentes abordagens. O que chama atenção é que não se trata mais de ações isoladas ou “de marketing”: são metas com indicadores claros, grupos de afinidade estruturados, ações afirmativas em recrutamento e governança de diversidade integrada à estratégia.
De formas distintas, todas as empresas analisadas possuem ações estruturadas de bem-estar físico, mental e social. O Aché, por exemplo, com seu app Estar Bem; a Cimed com creche corporativa e educação básica; e a Sanofi com programas voltados para apoio emocional e parentalidade.
A percepção de que a experiência do colaborador influencia diretamente a performance do negócio está presente em todas as iniciativas.
Ainda que com diferentes graus de maturidade digital, todas utilizam tecnologia, dados e analytics para embasar decisões, mapear sucessões, avaliar clima organizacional e monitorar a experiência dos colaboradores. O uso de HRBPs como consultores internos, como ocorre na Novo Nordisk, é um exemplo de como o RH assume papel consultivo e decisivo na governança das empresas.
Embora não tenhamos detalhado todas as 20 empresas do ranking, é importante destacar que outras gigantes do setor também possuem iniciativas relevantes em gestão de pessoas, como:
Essas empresas, mesmo com menor visibilidade pública em alguns casos, integram um setor que tem valorizado cada vez mais a experiência do colaborador como diferencial competitivo.
O crescimento exponencial da indústria farmacêutica no Brasil é sustentado por muito mais do que inovação em produtos ou excelência em distribuição. Por trás dos números bilionários e da presença em quase todos os lares brasileiros, há uma força silenciosa e poderosa: a gestão estratégica de pessoas.
As principais farmacêuticas do país demonstram, com práticas consistentes, que é possível combinar performance, inovação, bem-estar, inclusão e desenvolvimento. Elas nos mostram que liderar com propósito, cuidar das pessoas e construir culturas sólidas é o caminho não só para o crescimento econômico, mas também para a perenidade organizacional.
Para profissionais de RH, lideranças e empresários, o setor farmacêutico brasileiro oferece exemplos concretos de como transformar cultura, engajar talentos e gerar impacto com responsabilidade — um desafio que se torna cada vez mais essencial em todos os segmentos.