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Depressão no trabalho: como identificar os sintomas e o que fazer

7 minutos de leitura

Saber lidar com a carreira de maneira saudável nos dias de hoje, não tem sido uma tarefa fácil. E cada vez mais tem exigido dos profissionais uma capacidade de administrar bem o tempo, as relações, a pressão por resultados e o estresse que é ocasionado pelo dia a dia da rotina. Diante desse cenário, surgem algumas doenças que podem desencadear a depressão nos colaboradores, e por isso, separei alguns pontos que devem ser observados e algumas ações de como a empresa pode atuar para ajudar nessa situação.

A OMS (Organização Mundial de Saúde) aponta que até 2020, a depressão será o 2º maior motivo de afastamento com a possibilidade de aumentar daqui a uma década. Por isso a importância de identificar e criar ações para evitar e ajudar os que sofrem desse mal.

O que é a depressão?

Antes de começarmos a falar sobre a definição do que é a depressão, eu gostaria de pontuar o que não é depressão. Ao contrário do que algumas pessoas pensam, não se trata de frescura ou falta do que fazer, nem falta de Deus ou um momento de angústia. Trata-se de uma das doenças mais perigosas e silenciosas que o nosso século já viu.

Segundo o CID 10-F33, a depressão é uma doença psiquiátrica crônica e recorrente que produz uma alteração psiquiátrica crônica e recorrente que produz alteração do humor caracterizada por uma tristeza profunda, sem fim, associada a sentimentos de dor, amargura, desencanto, desesperança, baixa autoestima e culpa, assim como a distúrbios do sono e do apetite.

Acredito que a principal campanha ou conscientização que precisaríamos realizar com as pessoas é o entendimento de como, fisiologicamente, essa doença altera a vontade de viver das pessoas.

Nem toda tristeza é depressão

Já começo esclarecendo que é de suma importância distinguirmos a tristeza patológica, daquela transitória provocada por algum acontecimento difícil e que fazem parte da vida de nós seres humanos, tais como: a morte de uma pessoa que amamos; perda de um emprego; traição de um namorado(a); morte de um bichinho de estimação; traição de um amigo e etc.

Tristeza momentânea

Todos esses eventos podem provocar tristezas que são naturalmente “absolvidas” com o tempo e fazem com que as pessoas sigam em frente mesmo que o peito ainda esteja sentindo.

A diferença é que, quando não há depressão, o cérebro consegue modular essa emoção negativa. Você pode estar triste, mas sabe que tem de ir trabalhar, toma um café, procura pensar coisas boas e segue adiante.

Se fizermos uma autoanálise ou analisarmos pessoas próximas a nós que já passaram por alguma situação citada acima, vamos perceber que sem a depressão, a tristeza vem seguida de uma superação.

Tristeza associada a depressão

Na depressão, a tristeza não cede e não importa o motivo, ela não dá trégua mesmo que não haja uma causa aparente. O primeiro a ser atingido é o humor que permanece deprimido praticamente o tempo todo, por dias, as vezes por meses ou anos.

O interesse pelas atividades que antes davam prazer já não significam mais, o indivíduo perde todas as perspectivas e a única coisa que ele quer é ficar quieto, no “escuro”, sozinho. Obviamente, esses sintomas vai depender bastante do grau de depressão em que ele enfrenta.

Organização Mundial da Saúde (OMS) já alertou para o fato de que, até 2030, o distúrbio pode se tornar o mais comum do mundo inteiro, a depressão tem sido uma doença incapacitante que atinge por volta de 350 milhões de pessoas no mundo.

Os quadros variam de intensidade e duração e podem ser classificados em três diferentes graus: leves, moderados e graves. 

Fisiopatologia da Depressão

Fiz questão de tentar explicar de uma forma mais simples, como a depressão atua no cérebro. O objetivo foi fazer você entender que não adianta muito pedir para alguém se animar ou sair de casa, pois ela não vai conseguir. E não é por má vontade, ela apenas não consegue!

Vou tentar simplificar para que você entenda o que acontece, temos me nosso cérebro regiões que são responsáveis por emoções negativas.

Você já deve ter assistido o filme divertidamente, onde temos a representação dos sentimentos básicos (tristeza, alegria, raiva, nojo, medo). Pois bem, agora imagine o seu cérebro como uma cabine de comando sendo conduzida somente pela tristeza, a alegria já não consegue mais tomar a frente da situação.

Pronto, poderia parar por aqui que já daria para você entender, mas vamos ver a fisiopatologia real para que você saiba como acontece

O nosso cérebro utiliza muitos neurotransmissores, que são substâncias produzidas pelos neurônios para enviar informações para outras células. Os principais neurotransmissores envolvidos na depressão, são a serotonina e a noradrenalina. Quando há um desequilíbrio na produção delas, a doença se instala.

Entendendo que os neurônios precisam de neurotransmissores para se comunicar, o tratamento para depressão consiste em aumentar os neurotransmissores certos para que seja possível ajustar novamente a função desses neurônios.

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Existem causas genéticas para a doença?

Alguns estudos apontam que uma das causas para a doença, pode estar relacionada a genética. Estudos apontam que os genes que a pessoa carrega são responsáveis por 40% das chances de desenvolver a doença. O restante deste percentual é influenciado pelo ambiente e outros fatores externos.

Os fatores genéticos associados a causas externas, tais como, o estresse forte ou a perda de um ente querido podem desencadear sim a depressão. Um evento dessa magnitude pode desencadear o desequilíbrio dos neurotransmissores no cérebro.

Ao saber que depressão pode ter uma origem biológica, o doente não se culpa tanto, pois os amigos e familiares podem encarar a doença numa perspectiva mais solidária.

Entender e buscar ajuda são as principais ações que precisam ser tomadas. Procurar um psiquiatra, fazer terapia, dormir bem e praticar atividade física, fazem parte do tratamento para mitigar ou quem sabe eliminar o problema.

Como o ambiente de trabalho pode colaborar para a depressão?

O ambiente corporativo costuma exigir bastante da maioria dos profissionais, e as diversas demandas, projetos, prazos e decisões, podem fazer com que o indivíduo se sinta exausto e até mesmo ansioso mais do que deveria.

Vimos mais acima, que algumas pessoas podem trazer consigo causas genéticas, o que pode predispor esse individuo a estar mais suscetível a depressão, em um ambiente corporativo mais agressivo e que trabalha sob forte pressão.

Não que a empresa seja o único motivo para desenvolver esse tipo de doença em colaboradores, mas ela pode sim propiciar para que esse gatilho seja acionado.

Qual a participação do RH nesse processo?

O setor de RH, bem como todos os colaboradores e líderes, podem ter uma participação determinante na identificação e no auxílio ao tratamento contra a depressão no trabalho.

A valorização dos colaboradores e ações que promovam a desaceleração, podem ajudar bastante a lidar com o dia a dia exaustivo. Realizar programas de conscientização da doença e formas de como evitá-la, pode ser o início desse longo caminho.

Portanto, a saúde mental deve ser uma peça cada vez mais importante no quebra-cabeça de benefícios que uma organização tem a oferecer aos seus colaboradores.

E não pode ser só pelo motivo de que a humanização nas relações e a preocupação com a saúde emocional e física das pessoas podem ajudar nos índices de absenteísmo, engajamento e produtividade, mas porque mostra a preocupação genuína com a pessoa por trás do crachá.

Sintomas da depressão: como identificar

Entre as principais situações, estão as mudanças comportamentais dos seus colaboradores. Um dos fortes indícios é o desempenho, a presença e a forma como ele lida com os demais.

Como o RH não é Deus para ser “onipresente e estar em vários lugares ao mesmo tempo”, o setor deve criar mecanismos que afiram o desempenho e o acompanhamento. Com certeza se mensurado, será percebido pelos líderes um queda contínua ou brusca na performance de um colaborador.

Outra ação tão importante quanto uma avaliação de desempenho, é orientar a todos sobre a doença, para que todos possam ajudar a evitar e identificar características que possam levar a um agravamento.

Separei alguns dos sintomas mais comuns no ambiente de trabalho que podem ser percebidos nos colaboradores que podem estar desenvolvendo quadros depressivos:

  • cansaço excessivo;
  • insatisfação crônica, ou seja, nada está bom ou tem graça;
  • picos de alegria;
  • indecisão;
  • reclusão e introspecção;
  • irritabilidade;
  • agressividade;
  • dificuldade de concentração;
  • falta de motivação;
  • queda drástica na produtividade;
  • dificuldade nas relações com os colegas;
  • tristeza constante e profunda.

Vale ressaltar que é necessário a avaliação de um profissional, que ainda existe um tabu sobre a doença e que nem todos querem se abrir sobre seus problemas pessoais. Portanto, crie canais para que isso possa chegar à tona.

Capacite os gestores da empresa

Os gestores têm um papel fundamental em identificar e prevenir a depressão no trabalho.

Primeiramente, porque podem existir líderes tóxicos que ativam o gatilho ou porque são o contato mais próximo do profissional abalado psicologicamente. Além do fato de que, os líderes estão por dentro das mudanças abruptas de comportamento ou performance dos colaboradores.

Algumas pessoas me perguntam o que fazer para conscientizar as lideranças, e sempre respondo que o RH pode fazer um trabalho contínuo de esclarecimento e capacitação, como:

  • treinamentos sobre perfis comportamentais;
  • realizar feedback;
  • criar grupos que compartilham experiências;
  • estimular o diálogo aberto com todos sobre a importância e os cuidados com a saúde mental.

Com a educação a respeito das realidades sobre a depressão no trabalho, todos podem atuar na prevenção e ajudar quem sofre com essa doença.

Dicas para prevenir a depressão no trabalho

Prevenir a depressão no trabalho, depende de algumas ações que devem ser levadas a sério. Veja abaixo 3 dicas importantes e comece já a trabalhar na sua empresa.

1. Torne agradável o local de trabalho

Que tal transformar o ambiente em um local que estimule as vibrações positivas e as sensações relaxantes? Isso, pode ajudar na manutenção e bem-estar das pessoas.

Além disso, certifique-se de que não exista toxicidade no local de trabalho, como, assédios, bullyings e toda forma de intolerância que pode desencadear casos de depressão no trabalho.

Isso inclui a atenção à gestão e a maneira com a qual os líderes se relacionam com os profissionais. Afinal, o assédio pode vir também de quem cobra e demanda por resultados, e isso tende a evoluir para casos de distúrbios psicológicos, como o estresse, a ansiedade e a depressão.

2. Flexibilize a rotina

Uma boa maneira de combater a depressão no trabalho é a partir da criação de uma rotina mais flexível. Isso significa, por exemplo:

  • estabelecer um dia de home office por semana;
  • trabalhar com banco de horas, caso sua convenção coletiva permita;
  • desenvolver programas de bem-estar como momentos para mindfulness;
  • dias de convívio com a família;
  • prática de esportes.

Essas ações, embora pareçam meros detalhes na luta contra a depressão no trabalho, permitem o estabelecimento de uma cultura de valor ao profissional, principalmente, a intenção em buscar auxílio.

3. Ofereça ajuda especializada

Por fim, vale destacar que o RH tem sim, um papel elementar nessa identificação e auxílio contra a depressão no trabalho, mas o tratamento não é responsabilidade dos profissionais do setor.

Evite, portanto, transformar as conversas em sessões terapêuticas. O funcionário se abrir é um primeiro passo importante, mas o tratamento com profissionais qualificados, tende a ser a alternativa mais eficiente para que esse colaborador volte a ter uma vida mais saudável.

Espero que essas dicas tenha te ajudado, e se não existe em sua empresa momentos para trabalhar esse tema, os crie. As tendências para a realidade que nos aguarda no futuro, podem ser mudadas a partir das nossas ações e do olhar ao outro que oferecemos.

Isabel Holanda

Há 15 anos atuando na área de gestão de pessoas, graduada em Pedagogia pela UFC, MBA em Gestão de Pessoas pela Estácio, Especialista em Neuropsicopedagogia pela Faculdade Metropolitana de Ribeirão Preto, Life Coach pela Sociedade Latino Americana de Coaching (SLAC), Analista Comportamental DISC pela SLAC e Youtuber nas horas vagas.

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