Bird Box na gestão de pessoas: para o que você tem fechados os olhos?

Bird Box na gestão de pessoas: para o que você tem fechados os olhos?
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Se você ficou interessado no tema, provavelmente foi atraído por duas questões, a primeira foi porque não assistiu o filme e ficou curioso para saber do que se trata Bird Box e a segunda a de não conseguir associar o que o filme tem a ver com Gestão de Pessoas.

O filme foi baseado no livro  com o mesmo nome e de autoria do autor Josh Malerman – publicado no Brasil pela Editora Intrínseca com o título “Caixa de Pássaros”.

Relação Bird Box e Gestão de Pessoas

Este artigo pretende mostrar algumas lições que podemos aprender com o filme. Para você que ainda não assistiu, prometo que não darei spoiler, mas precisarei te apresentar uma síntese a fim de que se entenda a relação entre o filme e a análise feita.

O filme foi lançado pela Netflix no último dia 21,  acompanha a história de Malorie (Sandra Bullock), onde a primeira cena do filme, mostra ela trabalhando em seu ateliê, pintando uma tela que traduz a inabilidade das pessoas de se conectarem.

Além do quadro que ela está pintando, existem outros diversos que possuem o mesmo padrão de fundo escuro e pessoas sozinhas.

Nesta cena é apresentado muito sobre o problema dela, que será desenvolvido no decorrer da história. Malorie tem dificuldades para se conectar com as pessoas e como está grávida, não acredita que esta conexão irá acontecer com o seu bebê.

Entendendo o filme

No decorrer do filme, após diversas cenas de ação e suspense, vemos Malorie responsável por duas crianças que se vê no meio de um cenário pós apocalíptico tentando sobreviver há uma espécie de criaturas ou alucinação que começa a afetar as pessoas.

Esse evento sobrenatural faz com que as pessoas cometam suicídio de maneira quase instantânea ao terem contato visual com o mundo exterior. Ao longo do filme vemos que de alguma forma, as pessoas conseguem sobreviver por mais tempo a essa onda de suicídio se viverem escondidas e com olhos vendados.

No filme não é possível ver as criaturas e nem como elas são e a intenção do filme é justamente essa, fazer com que o espectador coloque o seu medo ali. Você passa a imaginar o que te dá medo ou o que te deixaria apavorado como aquelas pessoas.

Em uma cena o personagem Gary considerado um “louco” , interpretado pelo ator Tom Hollander, é uma das poucas pessoas que viu o ser sobrenatural e não se matou. Em determinado momento, ele chega a desenhar esses seres horripilantes, o que deixa uma dúvida no ar, porque ele não é forte o bastante para atingi-lo?

O fato é que podemos associar algumas lições e ações que podemos aprender com o filme. Elenquei abaixo 5 lições que podemos tirar :

1) Conexão sócio relacional 

No filme fica claro que a partir do momento em que essa crise se alastra por todos os países,  o extinto de sobrevivência falará mais alto e aumentará o isolamento de cada um que sobreviveu ao caos.

Alguns psicanalistas defendem a ideia que existe uma mensagem subliminar no filme. Seria a de depressão em massa, doença que tem assolado os dia de hoje e devastado uma quantidade significativa de pessoas. Mas além dessa mensagem que realmente é um apelo subliminar, percebemos outras mensagens ou lições que podemos analisar.

Excesso da tecnologia

Você já parou para pensar que embora sejamos todos altamente conectados com as tecnologias que estão disponíveis, temos perdido parte da capacidade de socialização e isso tem acontecido com essa e com as gerações que estão nascendo?

Quando o filme apresenta um insolamento das pessoas percebemos que estamos caminhando para o mesmo precipício de individualidade relacional. É fato de que precisamos ter nossa individualidade respeitada, uns até a tem de forma mais incisiva, mas estamos perdendo nossa habilidade de conversação real, de diálogos olho no olho, da vida real. E por maior que seja a quantidade de coisas que tentem nos conectar (redes sociais, aplicativos de conversação, etc) as relações tem se tornado cada vez mais superficiais. Isso vai reforçando cada vez mais o nosso individualismo e não o nosso espírito de coletivismo. Nossas conexões são rasas, superficiais e voláteis.  

A preocupação em conectar pessoas

Mas o que isso tem a ver com a gestão de pessoas? Eu posso afirmar que tem tudo a ver! Se temos gerações inábeis ou com dificuldades relacionais, que preferem o contato digital ao real, a gestão de pessoas precisara de mais tempo e dedicação por parte dos RH´s e dos líderes para conectar pessoas a propósitos. E o que seria das organizações sem essas sem as duas?

Conectar pessoas precisa estar constantemente em nosso radar de gestores e em muitos casos ser uma ação constante em nosso planejamento estratégico.

2) A “venda” invisível

Hoje em dia vivemos a realidade “fast”. Tudo está ao alcance das mãos e de forma muito rápida, não nos desconectamos mais ao ir para casa, somos bombardeados por várias notícias absurdamente aterrorizantes e não temos paciência para esperar mais nada, e ainda desenvolvemos síndromes facilmente.

Isso tudo tem gerado em nossos colaboradores vários tipos de transtornos psíquicos (depressão, bipolaridade, pânico, transtorno obsessivo compulsivo (TOC), psicoses, transtorno de ansiedade generalizada (TAG), isolamento social e o excesso de consumismo] ou doenças psicossomáticas.

Quando os transtornos se tornam problemas sérios

Você alguma vez deve ter percebido ou ouvido relatos de seus colaboradores sobre o medo de sair de casa para trabalhar, ou até mesmo de ter desenvolvido TOC em relação à segurança de suas vidas. Todas essas circunstâncias reais, acabam atrapalhando esse indivíduo em seu cotidiano social e profissional.

No filme podemos perceber que os sobreviventes precisam andar com vendas para não serem atingidos com a loucura causada pelo mal que assola a todos. Fechar os olhos significa não deixar se influenciar por toda essa onda que devasta o nosso emocional a fim de sobrevivermos.

Para a psicanálise, o fato de tomar conhecimento de fatos e moldá-los a fim de não sofrermos antecipadamente e de não nos paralisarmos, traduz que esse indivíduo tem uma psique saudável.

Mas o grande problema é que temos criado mecanismos de defesa e isolamento para evitar a todo modo o contato com esse mundo pós apocalíptico, buscamos uma certa zona de conforto para evitarmos sofrimentos e garantir nossa sobrevivência. Quando as coisas saem dessa zona de conforto muitos se perdem e já não sabem mais voltar.

É preciso saber se adaptar

A história nos convida a descobrir uma nova forma de viver e que nos obrigue a ter contato com coisas que nem sempre queremos, por exemplo o contato com o interno, com o seu eu interior.

No filme a personagem principal tem como objetivo manter os filhos em segurança e por vários momentos ela é enfrentada a sair dessa “zona de conforto” e enxergar o que precisa ser feito, no filme existe uma esperança de sair do caos, mas que envolve mudança física e emocional, que seria a travessia no rio para chegar há um abrigo. Acompanhamos como é difícil sair dessa zona e enfrentar a mudança. Quantas travessias muitos de nós já realizou e ainda precisará realizar.

3) Escolhas difíceis

Todos os dias e a todo momento somos desafiados a tomar decisões complicadas, que implicam, muitas vezes, em resultados que tem efeito rebote. Isso na vida pessoal e profissional.  

Trabalhar as pessoas de sua empresa para aprender a analisar a situação, enxergar os efeitos que vem a rebote, mitigar os impactos e lidar de forma humana com as consequências e até com a própria cobrança, precisam ser uma de nossas preocupações com gestão dos recursos humanos.

No filme temos várias situações difíceis em que alguém precisa tomar uma decisão, tem três situações que me marcaram muito, uma delas foi a de que um dos sobreviventes precisa escolher o que fazer para mudar uma situação quando eles estão em um supermercado e se depara com mal.

A outra cena muito marcante sobre decisões foi  a de quando aparecia algum sobrevivente batendo na porta gerando a necessidade da analise rápida e decisão de abri-la ou não.

E por fim a cena em que uma mãe é obrigada a decidir por um de seus filhos para que um desses tire a venda. Calma gente, não ire dar spoiler. Mas o fato é que a todo momento nós somos desafiados a tomar decisões e muitas delas difíceis. Mas nunca paramos para nos analisar o pós decisão, como ficamos e em que nos tornamos. Lidar com o efeito da decisão, em muitos casos, pode nos consumir e não nos preocupamos em tratar e lidar com isso.

Como trabalhar a “decisão” nas empresas

Muitas vezes nos deparamos com situações delicadas, mas lidar com elas é a grande questão. Proporcionar uma Gestalt terapia para grupos que são mais expostos a esse tipo de decisão, ou grupos focais para debater algum tema, compartilhar situações ou até mesmo propiciar nas empresas acompanhamento com terapeutas e psicólogos pode ser uma excelente decisão para diagnóstico e melhoria de questões que não foram resolvidas.

Entender que para muitas questões não teremos respostas e que isso precisa ser trabalhado nas organizações.

Nem sempre também, temos tempo de fazer a melhor escolha, mas acredito que as decisões deveriam ser tomadas como um cego tateando alguma coisa: Acessar a sua biblioteca interna de referência. Quanto mais nos conhecemos mais acesso a essas informações teremos e com maior agilidade.

A importância de se conhecer

No momento em que tomamos uma decisão às cegas ou baseadas em suposições de outras pessoas sem nenhuma referência, vamos contra tudo o que se constitui internamente e é capaz de gerar um colapso mental interno, do tipo que vimos em Bird Box.

O que vimos muito acontecer nas organizações, são situações onde decisões são tomadas sem consciência, sem conhecimento e baseado muitas vezes em fatos superficiais, gerando a impossibilidade em quem as toma de lidar com a consequência da decisão, independente de qual seja.

A tomada de decisão consciente nos fortalece, criando mecanismos internos variáveis capazes de nos consolidar.

Certa vez realizei um trabalho com os líderes voltado ao autoconhecimento, fazendo com que eles se reconhecessem e acessassem os seus limites. Esse trabalho gerou um resultado gigantesco na tomada de decisão dessas pessoas e podemos perceber uma significativa mudança nas decisões após esse momento.

Eles passaram a ter conhecimento de até onde vão seus limites, além de buscarem conhecer também os limites do outro e da situação envolvida.

4) Controle situacional

A maioria de nós somos dotados dos sentidos básicos (a visão, o olfato, o paladar, a audição e o tato) e o simples fato de tê-los nos faz acreditar que vemos tudo o que precisa ser visto e sentirmos tudo o que está em nossa frente. Mas a verdade é que muitas vezes somos confundidos por nossos sentidos e percebemos o quão incompletas ou parciais foram nossas atitudes.

Quando o filme aborda a questão da cegueira visual, onde os personagens precisam andar de vendas, nós conseguimos perceber o tipo de desconforto que sentimos com essa situação, mesmo que temporária.

Eu me peguei em várias cenas do filme tentado imaginar como seria andar com vendas nos olhos e não enxergar o que enxergo. O simples fato de imaginar já nos dá um desconforto e completa vulnerabilidade frente a situação.

Mas o que o filme poderia nos ensinar é que sobreviverá os que não se confiarem apenas nos seus próprios olhos ou na capacidade que eles te dão, há algo maior em nossas deficiências que podem ser usadas para desenvolver novas habilidades, a nos fazer ver que não somos “essa coca cola toda”, a de que precisaremos desenvolver  habilidades que achávamos não ser necessárias, a de enxergar o outro com outros sentidos.

Em muitos casos temos sentimentos em nós que não fazemos a menor ideia de como lidar, estamos muitas vezes cegos e desconfortáveis. Mas quantos de nós já parou para auto análise?

O filme nos provoca a pensar e refletir sobre tantas coisas que começamos a nos perguntar, qual nível de cegueira eu posso ter? Isso vale para coisas e situações relacionadas a você e, principalmente ao outro.

5) Saúde emocional

Sabemos que independentemente da situação, a capacidade de expressar nossas questões emocionais e sociais são muito difíceis, ainda mais em um mundo cada vez mais individual e sem tempo. A livre tradução do nome do filme Bird Box é Caixa de Pássaros. Mas o que eles têm a ver com tudo isso?

Refletindo sobre a simbologia

A simbologia dos pássaros até para quem não estudou o significado, nos soa como algo que remete a liberdade, a seres que são mensageiros divinos.

Lembro-me de uma passagem na bíblia em que o Espirito Santo vem sobre Jesus como mensageiro de Deus, para lhe dar um recado sobre sua identidade, sobre como Deus o via em um momento pré caos em que ele já sabia que passaria. Se você quiser conhecer mais sobre essa história para entender minha análise, você poderá encontrar a passagem no livro de Matheus, capítulo 3 a partir do versículo 13.  

Essa simbologia de mensageiro de paz ou guerra que em muitas culturas os pássaros possuem, também é abordada no filme. A personagem da Sandra Bullock percebe que os pássaros conseguem sentir e avisar quando o mal se aproxima e passa a mantê-los em todo o seu percurso em uma caixa, eles acompanham a Malorie e os filhos até o final.

Talvez o fato de conhecermos a nós mesmos, por uma cegueira visual temporária do que aparentemente é obvio e passar a tatear outras visões internamente, possa ser o caminho para a liberdade. Estar conectado ao que é superior e entender as mensagens que a vida te dá podem nos ajudar nessa jornada pelo rio da vida.

“Que possamos chegar em nosso destino e libertarmos nossos pássaros!”

Já que estamos falando sobre a importância do auto conhecimento, confira também este artigo que escrevi sobre a diferença entre hard skill e soft skill.

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